20.12.06

Coleccionador de areias




Wake up we're almost there,
just ten more miles it was such an affair,
that in all our lives we've waited for this day.
And there it is,
it's shining like gold and little different than the one before
and who would've though that you would contemplate.

(Josh Rouse, in Under Cold Blue Stars)

Quando a areia assenta, não há tempo para falsas tartarugas a discutir aritmética com Alice ou para pérolas atrevidas a se esconderem por entre as pregas da pele, por baixo da carne. Cantam-se canções quase desconhecidas para ninguém ouvir e ecoa-se de volta. Canto eu e cantas tu. Não nos ouvimos.
Tenho nos pés uma quantidade de grãos de açúcar mascavado. Pesam-me. Penso nas crianças que, aqui, correram quando o calor se sentia e no deleite dos coleccionadores de imensidões numa praia como esta. Colocariam uma pequena porção, decerto, em frasco não muito espelhado de forma a não turvar a vista, nem tão pouco muito exposto aos beijos atrevidos da luz que a gastariam. Não sei o que escreveriam na sua etiqueta com suas canetas de pena, compradas para a ocasião – esse ritual de a colocar.
Um grande “P” (sim, um pê!), flutua, no amarelo empardecido do oceano, ao jeito de calhau esquecido ou de mensagem não bebida e esquecida em garrafa por ler e tu ficas a olhar o tom rosado de um sol cansado e um céu que não se põe. A letra toca as fronteiras não desenhadas de figuras geométricas traçando rotas que não ficarão por seguir – certamente! Far-me-ei a elas em barco de papel.

Em prateleiras alheias e coleccionadas de praias, encontram-se continentes e durante a eternidade, dunas engarrafadas fitam-se como amantes impossibilitados de tocar por esse composto transparante, por eles formado.
Continuo nas minhas cantorias, adormecendo o menino do coro que há em mim.

Volto a colar-te frases soltas no tecto da língua, semeando-me.
Lê-me as entrelinhas, onde os icebergs derretem, enquanto pensares em postais de natal. Lê-me entrelinhas desenhadas em areia abafada pelo mar, durante três dias consecutivos e prometo que fico aqui.

4 comentários:

Sof disse...

É a história d'Alice no País das Maravilhas?

A tartaruga fumava cachimbo?

Carne d'ostra é bom?

Os grãos eram das azevias?

Os coleccionadores bebiam imenso leite na praia?

Já dei um beijo na boca do meu namorado!

Porque o Oceano estava amarelo, quando toda a gente sabe que ele é preto? Estaria doente?

À'lice esqueceu-se de arriar o calhau?

As dunas engarrafam-se como a Brisa maracujá?

A tua língua tem tecto? Muitas pessoas deveriam ter tecto na língua mas não têm...

Pedro_Berenguer disse...

Se há língua sem "tecto" é a minha.

Pedro Espírito Santo disse...

"P" de tangerinas ?

Pedro_Berenguer disse...

"P" de Peter
"P" de Pan
"P" de Pedro
"P" de Pen Drive
"P" de Phoenix
"P" de Phormat
"P" de PU...er...