13.11.06

Catarina II


Catarina lembrava-se de escolher aquela liga acetinada de cor branca, mal a vira na loja, numa tarde quente e ventosa. Mas isso de pouco interessava, hoje. Ria muito nervosa, como não havia gargalhado sequer , no escuro, nessa "primeira vez", como lhe chamavam.
Essa noite, em que o chão de madeira fora menos frio que a chuva que caía. Ao contrário, das suas amigas estava farta de esperas que não lhe faziam qualquer sentido. Nesse dia decidira que a pressa não seria inimiga da perfeição. O tempo passara e as noites como aquela repetiriam-se.
Agora, seis anos volvidos, deliciava-se com aquele medo adolescente de ser tocada, qual virgem envergonhada. Antes de sair do trabalho, chamou, histericamente, a colega Maria, que acabava de ser deixada, por um carro preto, na berma da estrada. Maria, uma mulher de quarenta e dois anos, mas que se vestia como se tivesse menos vinte, fitou-a com o sorriso frio que dava aos homens casados com quem tomava cafés depois do almoço.
Aquele mexer de lábios gélido parecia deitar ao chão todos esses sonhos vãos, afinal ela era uma das que “se usa sem agitar e sem fingir ternura”. Tirou a liga, no meio da rua e atirou-a para os arbustos repetindo baixinho, para si mesma em jeito de lenga-lenga, treze vezes “as putas não amam!”

2 comentários:

Pedro_Berenguer disse...

Pêga-fófinha, ninguém te comentou! A malta é tímida, mas não faz mal...
Já agora para quem ler isto.. se souberem o paradeiro do trabalho cujo pormenor ilustra este texto, eu agradecia... É que desapareceu MISTERIOSAMENTE, após uma exposição.

Fui!

davidribeiroribeiro disse...

Tadinha da Catarina ninguém lhe teceu um comentário...eu deixo um: Coberta de razão, e eu repito mais de treze vezes:"as putas não amam mesmo!!!"
O trabalho é muito interessante e gostei tb(e muito) do texto!