29.6.09

escorreu a chuva e secou. escorreram as flores e a memória delas, feita sombra desenhada. escorreu tudo pela parede irregular do recipiente. não conseguiu apanhar nada.

26.6.09

"Outra"

(pormenor de "talvez fale contigo, amanhã". Técnica mista sobre tela. 2003)

Não é o chão que se move, mas a roupa que se faz líquida e se entorna - boa desculpa. Também não adianta soletrar F-R-A-g-I-L na caixa quando é deixada aberta aos olhares curiosos.
Ouvi dizer que os corvos, com a alvura que não têm, colectam brilhos em seus ninhos. E ao contrário da minha simpatia, não parece ser um mito urbano.

Conta-lhe outra

(pormenores de "talvez fale contigo, amanhã". Técnica mista sobre madeira. 2004)

24.6.09

went out and got myself an elf haircut.

18.6.09

Or so They say

(Pormenor de "Catarina nunca chorou mas descascava cebolas com alguma frequência". Técnica mista sobre madeira. 2004)

Retirou todas as camadas de casca de cebola até obter uma pequena porta em madeira. Ao abri-la ouviu as palavras alheias escavarem-lhe a carne que habitualmente vendia, a troco de meia dúzia de cruzados de prata.

17.6.09

Aquele azul

Deixou a língua desenhar o recortado da ramagem, emprestada pela luz, sobre o azul do veludo.

O que aí vem, depois das cerejas

É tempo das cerejas (albinas ou não). Já m'as podes atirar à janela.

15.6.09

Madalena em contrição

(Um dos painéis do políptico "Todos os caminhos vão dar a Catarina". Técnica Mista sobre Madeira. 2004)

O xaile negro, que pusera, dava-lhe um ar semi-instantâneo de falsa beata. Além disso tapava-lhe o decote arrendado a rouge.

Madalena, de seu nome, dirigia-se com o seu melhor ar de arrependida - ensaiara-o, frente ao espelho, enquanto colocava ganchos nos caracóis e arrefecia a carne - ao confessionário da igreja que ficava a caminho do trabalho. Ao olhar de soslaio o chão do falso habitáculo, não conseguiu evitar deliciar-se precocemente com o que se adivinhava sob os joelhos, anunciando a vontade sequiosa de voltar a pecar noutro chão, o da esquina do costume.


12.6.09

À sombra, o azul dos olhos fica cinza


É luz (ou a ausência que ela deixa) que faz o desenho como nos trabalho da Lourdes
Há a perversão do alfinete que se finge ser do peito, de uma qualquer avó, emprestada para o propósito.
Está, a tela do avesso, para se assemelhar à pele.
É retocada com aquele azul, a tatuagem.

8.6.09


Hoje, descobri que era um "berengue de limão".



3657 dias depois


Eram (quase todos) felizes numa pequena grande casa azul com vista sobre as terras e sobre o mar, à qual jamais voltariam.

Em noites de lua cheia, como a de hoje, vêm-me aos mirtilos o olhar malicioso de um cão que sorria ao ver-me vender pensamentos por dez lipas, enquanto se derretiam as neves.


À mesma hora, um fazedor de asas e sorrisos tecia um sonho.

6.6.09

Under the Pink




Sentiu germinarem das entranhas, fixando raízes e movendo-se lentamente sob as pregas da carne e o rosado das dermes. Mordeu os lábios. Os seus.


Aquelas não eram as orquídeas de seu avô, pensou.



5.6.09

Há flores na pele?


À flor da pele

2.6.09

Grite mais baixo, porque esse seu silêncio incomoda-me.

Note to Self (yet another!)

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Isto não é uma flor.