Isto a ver bem, até ao fim do ano, se a história se arrastar, muita cabeça vai rolar!
28.9.06
Pensar em grande
27.9.06
Quando eu for rei
E ao me chamar “menino”, com aquele tom de quem por algum motivo se julga superior a mim, pela centésima vez, dei o meu olhar mais feroz, saltei-lhe em cima e depois de a ter esmurrado até ver vermelho a sujar as carpetes brancas, gritei:
“Off with her head!”
O homicídio nunca fora tão doce ali ou em lugar algum.
O homicídio nunca fora tão doce ali ou em lugar algum.
24.9.06
À espera
“Damos festas, abandonamos as nossas famílias para vivermos sós no Canadá, batalhamos para escrever livros que não mudam o mundo apesar das nossas dádivas e dos nossos imensos esforços, das nossas absurdas esperanças. Vivemos as nossas vidas, fazemos seja o que for que fazemos e depois dormimos: é tão simples e tão normal como isso. Alguns atiram-se de janelas, ou afogam-se, ou tomam comprimidos; um número maior morre por acidente, e a maioria, a imensa maioria é lentamente devorada por alguma doença ou, com muita sorte, pelo próprio tempo. Há apenas uma consolação: uma hora aqui ou ali em que as nossas vidas parecem, contra todas as probabilidades e expectativas, abrir-se de repente e dar-nos tudo quanto jamais imaginámos, embora todos, excepto as crianças (e talvez até elas), saibamos que a estas horas se seguirão inevitavelmente outras, muito mais negras e mais difíceis. Mesmo assim, adoramos a cidade, a manhã, mesmo assim desejamos, acima de tudo, mais.”
Michael Cunningham, in “As Horas”
Depois das histórias contadas, os rostos tornam-se de outros – o meu e o teu. Não sei bem se a nós deixam de pertencer, mas pelo menos às pessoas que fomos. Nessa cama fica o vazio do meu corpo e em mim a ausência do teu cheiro. Os restos de nós que já não são.
Vais por aí e eu por aqui. Escreves um novo capítulo no teu livro e eu continuo com o desenho anterior.
Vais por aí e eu por aqui. Escreves um novo capítulo no teu livro e eu continuo com o desenho anterior.
Naquele caderno de couro avermelhado, esboço-nos um final alternativo.
Fechas a porta. Vou esquecer que, às vezes, isto também faz doer.
Hoje finjo que não vou retroceder e digo-te adeus.
Volto à casa antiga se disseres o meu nome, baixinho. Bai-xi-nho e soletrando-o dentro da minha boca, enquanto encostas o teu corpo ao meu.
Chama-me se quiseres. Eu espero, mas fingirei não estar.
Chama-me antes que parta outra vez, para lugar onde não mais se espera o que já não volta.
Fechas a porta. Vou esquecer que, às vezes, isto também faz doer.
Hoje finjo que não vou retroceder e digo-te adeus.
Volto à casa antiga se disseres o meu nome, baixinho. Bai-xi-nho e soletrando-o dentro da minha boca, enquanto encostas o teu corpo ao meu.
Chama-me se quiseres. Eu espero, mas fingirei não estar.
Chama-me antes que parta outra vez, para lugar onde não mais se espera o que já não volta.
21.9.06
Bonecas Russas
Naquele filme, que vira numa tarde tórrida de Verão enquanto as massas faziam praia, em que Xavier comparava o jogo do amor e da sedução às Matryoshkas, tudo parecia ter-lhe sido esclarecido. A uma boneca russa seguir-se-ia uma e uma outra, e cada uma das vezes, indagar-se-ia se era aquela a última… ou “the one” como dizem no cinema. Cada uma das vezes, tentaria abri-la... não fosse estar uma, mais pequenina e perfeita, escondida lá dentro.
Gostara daquela imagem, tanto como do beijo dourado de Klimt que o fascinava ainda como naquela primeira vez que o tinha visto num livro de Filosofia. Guardara-a como se acautelam os segredos ou lábios roubados. Fizera dela lema e truísmo, até ao dia em que o ontem lhe bateu à porta e ocupou-lhe o hoje e o amanhã. Nunca contou que uma das bonecas, deixadas para trás (pensava ele) lhe despertasse o desejo antigo de desvendar, abrir e possuir.
Gostara daquela imagem, tanto como do beijo dourado de Klimt que o fascinava ainda como naquela primeira vez que o tinha visto num livro de Filosofia. Guardara-a como se acautelam os segredos ou lábios roubados. Fizera dela lema e truísmo, até ao dia em que o ontem lhe bateu à porta e ocupou-lhe o hoje e o amanhã. Nunca contou que uma das bonecas, deixadas para trás (pensava ele) lhe despertasse o desejo antigo de desvendar, abrir e possuir.
“I already had let you go”
20.9.06
A Festa
I think she's the saddest girl to ever to hold a martini.
A noite caíra e trouxera as gentes de todos os sítios, com as suas gargalhadas estridentes e conversas de ocasião para aquela festa. As prendas amontoavam-se ao pé da cadeira Hepplewhite.
Juliana sorvia, golo após golo, aquele que lhe parecia ser o martini mais interminável e fitava o casal a falar. Olhou-os enquanto trocavam os sorrisos e palavras embaraçadas de quem acabara de se conhecer. Ela que usava o decotado vestido vermelho comprado uma semana antes a pensar na ocasião - o aniversário dele - e calçava sapatos às tiras. Sentiu-se mais nua do que nunca. Mais nua do que tinha estado na véspera quando lhe levara canja de galinha para curar a gripe de ambos. Mais despida do que quando correra para o mar, naquela noite, após as mensagens de telemóvel dele. Mais descoberta do que quando tomara duche aquele Domingo tardio, antes de voltar para casa.
De olhos postos nos dois, mordiscava os lábios enquanto soltava dois grandes prantos silenciosos. Apenas dois!
Àquele copo de martini seguir-se-ia outro, e outro e mais outro ainda… Até perder conta de quantos copos tinha tomado. Dançaria o resto da noite com cada um dos olhares que coleccionara, tendo-os aos dois sempre em mente. Eles que, entretanto, haviam desaparecido, por entre as caras menos e mais familiares, para o carro dele.
Adormeceria num canto qualquer a lamber as feridas que não estavam à vista, mas por baixo da carne, enquanto sonhava com corpos incandescendo ao nascer do sol.
19.9.06
The Best Friend u Can Ever Have
Antes de mais devo dizer que tenho o prazer de chamar a esta grande senhora, de AMIGA.
Não daquelas que só se lembram de nós quando fazemos anos… Não das que só telefonam para as saídas de Sábado à noite… também não das que temos o “prazer” de ver num café mensal ou quando terceiros fazem anos. Não é, tão pouco, daquelas de quem perdermos (ou perderemos contacto).
Sofia Isabel é um daqueles raros achados que já não mais se largam. É daqueles tesouros que se trazem cá dentro sempre no lado esquerdo a caminhar para o meio a pulsar e a bater. E porque tentar definir o indefinível que é esta fabulosa mulher passará sempre por eufemismos da minha parte…
Não daquelas que só se lembram de nós quando fazemos anos… Não das que só telefonam para as saídas de Sábado à noite… também não das que temos o “prazer” de ver num café mensal ou quando terceiros fazem anos. Não é, tão pouco, daquelas de quem perdermos (ou perderemos contacto).
Sofia Isabel é um daqueles raros achados que já não mais se largam. É daqueles tesouros que se trazem cá dentro sempre no lado esquerdo a caminhar para o meio a pulsar e a bater. E porque tentar definir o indefinível que é esta fabulosa mulher passará sempre por eufemismos da minha parte…
"There ain't nothing no girl so sweet
Took her from heaven and gave her to me"
(PJ Harvey)
“You're already in there
(PJ Harvey)
“You're already in there
I'll be wearing your tattoo
You're already in there”
(Tori Amos)
“You lye, eyes closed,
(Tori Amos)
“You lye, eyes closed,
nothing left unseen could ever do us harmI
stand, so close, enough to see your dreams
in the beauty of you”
(Coldfinger)
“All my world in one grain of sand”
(Alison Goldfrapp)
(Coldfinger)
“All my world in one grain of sand”
(Alison Goldfrapp)
PS: Parabéns Bebé! Luv Ya
15.9.06
Apagando estrelas
Porque se cansara de alojar aquele sol imenso e tinha deixado de acreditar em estrelas que não se extinguiam de tanto brilhar, viajou ao Pólo Norte num barquinho de papel e comeu icebergues até cair para o lado. Afinal se o Verão começava a chegar ao fim para os outros, para si não podia ser diferente.
Sim... até as estrelas se extinguem!
14.9.06
A viagem de Alice
Cansada de esperas e de “se’s”, Alice arrumou os novelos que ainda corriam pela casa entre as brincadeiras do gato cinzento que por ali, com ela, habitava, no baú velho que herdara da avó materna. A avó, em tempos, prevenira a neta para o destino dos que passavam os dias de olhos postos no horizonte… Mas Alice, já senhora de seu pequeno mas pontiagudo nariz fazia tranças nos cabelos de Maria Maçã, a boneca de cabelos ruivos, e ria… ria muito alto daqueles monólogos confusos. Porque passaria alguém os seus dias a fitar um mar cujo princípio e o fim nem se viam?
Agora, ao olhar para trás, Alice não se conseguia recordar de uma única vez em que a avó, uma mulher de grandes e ternos olhos azuis e pele enrugada como papel, tivesse abandonado aquela casa de tom rosado que viria a habitar.
Durante muito tempo culpara, a avó e as suas histórias, do rumo que a sua vida tinha tomado, mas deixaria de acreditar em linhas traçadas na palma da mão ou em contos de mulheres que tinham começado a vestir o preto como armadura à espera de algo que não viria.
Era aquele o momento decisivo. Aquele ali e agora. Sim… ali! Na casa com vista para o mar que albergara o sal das outras antes dela.
Nas últimas semanas havia ansiado por um bilhete para lugar nenhum, longe das pontes e das pessoas conhecidas. Ao contrário daqueles jogos que a divertiam em adolescente, em que os castigos eram sempre mais doces que a confissão, este não era, agora, o caso. Chegava de se castigar… afinal nem fizera nada de especial. Sim… chegara daquele sentimento de culpa que lhe percorria o sangue como uma doença.
Deixaria tudo para trás de forma a poder começar de novo. Olharia uma última vez para a casa à qual, jamais, voltaria. A acompanhá-la não iria sequer a velha boneca. Tomaria uma estrada diferente e nunca atravessada algures, à esquerda do meio de um mapa por traçar.
Afinal, para Alice, aquilo já era um começo.
Agora, ao olhar para trás, Alice não se conseguia recordar de uma única vez em que a avó, uma mulher de grandes e ternos olhos azuis e pele enrugada como papel, tivesse abandonado aquela casa de tom rosado que viria a habitar.
Durante muito tempo culpara, a avó e as suas histórias, do rumo que a sua vida tinha tomado, mas deixaria de acreditar em linhas traçadas na palma da mão ou em contos de mulheres que tinham começado a vestir o preto como armadura à espera de algo que não viria.
Era aquele o momento decisivo. Aquele ali e agora. Sim… ali! Na casa com vista para o mar que albergara o sal das outras antes dela.
Nas últimas semanas havia ansiado por um bilhete para lugar nenhum, longe das pontes e das pessoas conhecidas. Ao contrário daqueles jogos que a divertiam em adolescente, em que os castigos eram sempre mais doces que a confissão, este não era, agora, o caso. Chegava de se castigar… afinal nem fizera nada de especial. Sim… chegara daquele sentimento de culpa que lhe percorria o sangue como uma doença.
Deixaria tudo para trás de forma a poder começar de novo. Olharia uma última vez para a casa à qual, jamais, voltaria. A acompanhá-la não iria sequer a velha boneca. Tomaria uma estrada diferente e nunca atravessada algures, à esquerda do meio de um mapa por traçar.
Afinal, para Alice, aquilo já era um começo.
8.9.06
Porque eu falo por enigmas (or so they say!)
- Pensei que só não percebia o que pintavas (não que não goste!). Mas também não percebo nada do que escreves no teu blog… aquilo é para alguém perceber? Nem percebo aquele título os novelos não sei quê…
- … também contam histórias! A mim contam… A ti não?
LOL Deixo desde já, aqui, humilde pedido de desculpas às minhas professoras de português – Rita, Clotilde, Fernanda, Ana, Inês: aparentemente enganei-vos!
Adaptando, então, o que me segreda, ao ouvido, Fiona Maçã (leia-se a grande senhora Apple): “I’ve been a bad bad boy!”
- … também contam histórias! A mim contam… A ti não?
LOL Deixo desde já, aqui, humilde pedido de desculpas às minhas professoras de português – Rita, Clotilde, Fernanda, Ana, Inês: aparentemente enganei-vos!
Adaptando, então, o que me segreda, ao ouvido, Fiona Maçã (leia-se a grande senhora Apple): “I’ve been a bad bad boy!”
7.9.06
Pêssego e Açafrão
Lembrava-se de ter lido, há anos, um texto qualquer sobre cheiros e a memória, e como ambos estavam tão ligados como as unhas e a carne.
O texto, encontrado num livro esquecido no sótão, falava sobre um canguru. Este encontrava-se intrigadíssimo com um odor que lhe era familiar, nunca percebendo de onde viria. Tendo percorrido o Mundo inteiro e caído de cansaço reparou que o cheiro vinha dele mesmo, da sua bolsa.
Mais recentemente, ao visitar um blog que lhe é querido, deu com a autora (que brilhantemente escreve) a descrever o cheiro de broas quente com manteiga acabadas de sair do forno da avó.
Nesse dia, recordou um encontro envergonhado no vão de escada e a conversa improvável que se seguira.
- Olá andorinha!
- Como sabias que era eu?
- Cheirei-te quando vinhas no andar de baixo.
- Cheiraste-me? E a que cheiro eu?
- A andorinha!
- Já cheiraste uma andorinha?
- Não, mas calculo que cheirem a pêssegos frescos e a especiarias de longe, embaladas pelo vento.
- Ah… Cheiro a pêssegos frescos!
- Claro que não! Mas pêssegos são doces e macios...
- Então e as especiarias? É o meu ar exótico?
- Tu não tens um ar exótico… Mas, novamente, disse-o porque achei que ficava bem. Seja como for não sei descrever-te a que cheiras! Sei que vicia como chocolate. Sei que pede aproximação. Sei que se liberta e infesta o ar por onde passaste. Sei que o farejo, ao longe, como fazem os cães e o levo comigo para todo o lado onde vá, entranhado na roupa, como naquela noite em que te encostaste a mim e nem com água a ferver te consegui afastar.
(silêncio)
- Então adeus, oh andorinha!
- Então adeus, oh voador.
Sorrira para dentro, mas bem para dentro para não dar a perceber. Seguir-se-iam um “olá”, rápido e fugidio como água nas mãos, e semanas a temer um mero vão de escada.
Mais recentemente, ao visitar um blog que lhe é querido, deu com a autora (que brilhantemente escreve) a descrever o cheiro de broas quente com manteiga acabadas de sair do forno da avó.
Nesse dia, recordou um encontro envergonhado no vão de escada e a conversa improvável que se seguira.
- Olá andorinha!
- Como sabias que era eu?
- Cheirei-te quando vinhas no andar de baixo.
- Cheiraste-me? E a que cheiro eu?
- A andorinha!
- Já cheiraste uma andorinha?
- Não, mas calculo que cheirem a pêssegos frescos e a especiarias de longe, embaladas pelo vento.
- Ah… Cheiro a pêssegos frescos!
- Claro que não! Mas pêssegos são doces e macios...
- Então e as especiarias? É o meu ar exótico?
- Tu não tens um ar exótico… Mas, novamente, disse-o porque achei que ficava bem. Seja como for não sei descrever-te a que cheiras! Sei que vicia como chocolate. Sei que pede aproximação. Sei que se liberta e infesta o ar por onde passaste. Sei que o farejo, ao longe, como fazem os cães e o levo comigo para todo o lado onde vá, entranhado na roupa, como naquela noite em que te encostaste a mim e nem com água a ferver te consegui afastar.
(silêncio)
- Então adeus, oh andorinha!
- Então adeus, oh voador.
Sorrira para dentro, mas bem para dentro para não dar a perceber. Seguir-se-iam um “olá”, rápido e fugidio como água nas mãos, e semanas a temer um mero vão de escada.
5.9.06
A Carta
"Put the pen
To the paper
Press the envelope
With my scent
Can't you see
In my handwriting
The curve Of my g?
The longing"
(P.J.Harvey)
Dentro de ti guardaste uma carta com destinatário, mas rumo incerto. Levaste-a a passear a três ou quatro cantos do Mundo, sempre de olhos postos no firmamento como as andorinhas quando procuram o calor.
Nestes dias de ardência imensa, em que os homens descansam sob pomares e bebem sumos da terra para se refrescar, lembraste-a e fitando o escrito e libertaste-o ao vento.
Antes de levantares voo fitas o ontem de relance. Esse ontem cheio de frutos sumarentos e cor adocicada.
Semeias o que tinha ficado por dizer e jubilas com a tua própria permissão. Já não precisas engolir toda a água dos riachos, nem tão pouco ter o mar nos olhos.
Nestes dias de ardência imensa, em que os homens descansam sob pomares e bebem sumos da terra para se refrescar, lembraste-a e fitando o escrito e libertaste-o ao vento.
Antes de levantares voo fitas o ontem de relance. Esse ontem cheio de frutos sumarentos e cor adocicada.
Semeias o que tinha ficado por dizer e jubilas com a tua própria permissão. Já não precisas engolir toda a água dos riachos, nem tão pouco ter o mar nos olhos.
4.9.06
Nem com maçãs te apago
Acordara mais cedo do que o habitual naquele dia e pensou ter engolido um sol. Sim! Um sol inteiro, quente e bulboso tal era o calor e a sede que sentia.
Soube desde logo que aquele não era um calor comum. Já o tinha sentido em tempos mas a chuva de fim de Inverno tinha-o conseguido apagar. Depois quando pressentia que o calor pudesse chegar, tratava de abrir a caixa de novelos que guardava no sótão e fiar uma mais história. Depois outra e depois outra, cada uma delas mais gélida que a anterior de forma que o Verão não chegasse.
Temeu o Verão mais do que qualquer outra das estações. Naquela manhã de Setembro, enquanto outros se preparavam para o arrumar na mala, sentiu a sua chegada. Era silenciosa para todos, menos para si. Em vez do sossego que todos pareciam sentir, ouvia a voz desse sol inteiro dentro de si.
Familiar como era, aquele calor, resolveu matá-lo, não com histórias contadas de “eu para eu”, mas com maçãs. Era isso! Sim! Maçãs! Passaria o dia a maçãs… umas depois das outras. Primeiro, vermelhas cor-de-sangue e depois outras tantas verdes (do verde mais frio e ácido que conseguisse encontrar). Se entretanto o calor persistisse comeria garfadas de gelo e mergulharia até ao fundo do oceano, não para falar com peixes mas para apagar aquele estranho arder.
A passagem do dia seria vagarosa, tão vagarosa que sentiria o lento andar dos segundos no grande relógio que cantava na sua pequena casa cor-de-rosa. O sol que sentia dentro de si parecia ter-se alastrado e infectado a própria casa, que, agora, pulsava como um coração gigantesco e contentor.
Seguiria o plano agendado e o verão daria lugar a um Outono precoce… Sim, tinha de ser! Não gostava do Verão – já o decidira e não voltaria atrás com tão pesada decisão. Odiaria o Verão, como até aí. Aquele era , afinal, um dia como os outros, marcado (talvez sim) de forma diferente no seu calendário… mas um dia como os outros.
Com o cair da noite, vestiu o linho mais fresco que tinha no armário, não fosse a temperatura subir outra vez e esfregou-se nas maçãs de pele castanha e áspera como a língua de gatos e de cheiro intenso, que lhe cobriam o chão do quarto.
Olhou uma última vez para o relógio barulhento. Mais umas horas e o novo dia chegaria. Se evitasse trocas de olhares, o sol apagar-se-ia assim como se tinha aceso, pensou.
Tudo correria como planeado a não ser por dois ou três lapsos - teriam sido mesmo tão poucos? Sentiria o sol crescer mais uma vez e nem mesmo o virar do calendário pareceria afectá-lo.
O convite para o mergulho tardio parecera-lhe, então, tão tentador como acertado. Mergulharia até ao fundo. Sim! Era esse o novo plano. Desde que evitasse ostras, o sol apagar-se-ia.
Não se viria a apagar, no entanto.
Soube desde logo que aquele não era um calor comum. Já o tinha sentido em tempos mas a chuva de fim de Inverno tinha-o conseguido apagar. Depois quando pressentia que o calor pudesse chegar, tratava de abrir a caixa de novelos que guardava no sótão e fiar uma mais história. Depois outra e depois outra, cada uma delas mais gélida que a anterior de forma que o Verão não chegasse.
Temeu o Verão mais do que qualquer outra das estações. Naquela manhã de Setembro, enquanto outros se preparavam para o arrumar na mala, sentiu a sua chegada. Era silenciosa para todos, menos para si. Em vez do sossego que todos pareciam sentir, ouvia a voz desse sol inteiro dentro de si.
Familiar como era, aquele calor, resolveu matá-lo, não com histórias contadas de “eu para eu”, mas com maçãs. Era isso! Sim! Maçãs! Passaria o dia a maçãs… umas depois das outras. Primeiro, vermelhas cor-de-sangue e depois outras tantas verdes (do verde mais frio e ácido que conseguisse encontrar). Se entretanto o calor persistisse comeria garfadas de gelo e mergulharia até ao fundo do oceano, não para falar com peixes mas para apagar aquele estranho arder.
A passagem do dia seria vagarosa, tão vagarosa que sentiria o lento andar dos segundos no grande relógio que cantava na sua pequena casa cor-de-rosa. O sol que sentia dentro de si parecia ter-se alastrado e infectado a própria casa, que, agora, pulsava como um coração gigantesco e contentor.
Seguiria o plano agendado e o verão daria lugar a um Outono precoce… Sim, tinha de ser! Não gostava do Verão – já o decidira e não voltaria atrás com tão pesada decisão. Odiaria o Verão, como até aí. Aquele era , afinal, um dia como os outros, marcado (talvez sim) de forma diferente no seu calendário… mas um dia como os outros.
Com o cair da noite, vestiu o linho mais fresco que tinha no armário, não fosse a temperatura subir outra vez e esfregou-se nas maçãs de pele castanha e áspera como a língua de gatos e de cheiro intenso, que lhe cobriam o chão do quarto.
Olhou uma última vez para o relógio barulhento. Mais umas horas e o novo dia chegaria. Se evitasse trocas de olhares, o sol apagar-se-ia assim como se tinha aceso, pensou.
Tudo correria como planeado a não ser por dois ou três lapsos - teriam sido mesmo tão poucos? Sentiria o sol crescer mais uma vez e nem mesmo o virar do calendário pareceria afectá-lo.
O convite para o mergulho tardio parecera-lhe, então, tão tentador como acertado. Mergulharia até ao fundo. Sim! Era esse o novo plano. Desde que evitasse ostras, o sol apagar-se-ia.
Não se viria a apagar, no entanto.
O calor, como uma infecção, passaria para a água do mar e para o corpo ao lado, ou teria sido ao contrário?
Parou de tentar contê-lo. Agarrou-o com ambas as mãos e saboreou-o sofregamente como se de uma sardinha assada se tratasse.
Sim chegara o Verão para si também e não o conseguira evitar. Tinha-se rendido a ele e à geografia dos seus próprios limites.
Não culparia aquele estranho sumo rosado com frutos a boiar. Não culparia sequer as maçãs ou o gelo que de tão quente não tinha apagado o sol. Não culparia sequer os olhos que teimavam em aparecer aqui e ali.
Culparia cada um dos novelos. Culparia cada uma das histórias por eles contadas. Culparia a casa que pulsava.
Sim… Chegara o Verão!
Parou de tentar contê-lo. Agarrou-o com ambas as mãos e saboreou-o sofregamente como se de uma sardinha assada se tratasse.
Sim chegara o Verão para si também e não o conseguira evitar. Tinha-se rendido a ele e à geografia dos seus próprios limites.
Não culparia aquele estranho sumo rosado com frutos a boiar. Não culparia sequer as maçãs ou o gelo que de tão quente não tinha apagado o sol. Não culparia sequer os olhos que teimavam em aparecer aqui e ali.
Culparia cada um dos novelos. Culparia cada uma das histórias por eles contadas. Culparia a casa que pulsava.
Sim… Chegara o Verão!
1.9.06
Explosão agridoce
Quase dois meses, sem aqui pôr pés ou escrever fosse o que fosse; em vez disso, dei comigo a magicar este e aquele post enquanto os dias corriam como areia entre as mãos. Bom... alguns dias!
Façamos o balanço:
Um ipod roubado – checked!
Uma pintura desaparecida – checked! (e sim… vai alguém pagar os 500 euritos! Mais não seja quem o tinha pedido para andar a tapar buraco em exposições, aqui e ali)
Malucos stalking me – checked! (dois detectados: ex-professora completamente perdida e junkie)
Trolhas e pintores por toda a casa – quantos “checked” devo pôr aqui?
“Cenas estranhíssimas”, chamemo-lhes assim! – checked! (e excluindo as outras!)
Ah pois… fora quase dois meses de “el doce faire niente”, nem sempre assim tão doces (mas quem não gosta de um pouco de agridoce?) e a caminharem para o fim. Corram! Corram grãos de areia… corram para outra praia. Uma a distância de um ano, não luz!
Mas antes disso:
“Excuse me
But I just have to
Explode”
Posso? É que isto até para explodir está difícil!
Tenho de pedir “se faz favor”?
Tenho de pedir “se faz favor”?
É que, desta vez, não peço.
“I'll be brand new
Brand new tomorrow
A little bit tired
But brand new!”
(Obrigado, oh Bjork!)
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